Doces, travessuras e um milhão de abóboras

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Abóboras populares. Foto de Martin Doege, via Commons - Abóboras populares. Foto de Martin Doege, via Commons
Abóboras populares. Foto de Martin Doege, via Commons

Acabei de voltar do supermercado onde fiz as compras para a semana. Como não quero perder a popularidade entre as crianças do bairro nem entre os amigos da minha filha, comprei alguns quilos de balinhas e caramelos para os que amanhã baterão à minha porta gritando “doce ou travessura”, como manda a tradição do Halloween.

Pouco tempo atrás, não havia muitos na Dinamarca que davam atenção a essa tradição norte-americana, mas nos últimos anos o Halloween se tornou uma festa popularíssima aqui. O alaranjado das abóboras que enfeitam grande parte das casas do meu bairro é uma evidência da popularidade da celebração.

Aliás, as abóboras são uma prova do crescente interesse pelo Halloween não só no meu bairro, mas em toda Dinamarca.  De acordo com o site de notícias Politiken, há 15 anos vendiam-se apenas 50 mil abóboras por ano no país. Este ano, a expectativa é de que as vendas cheguem a 1 milhão de abóboras, sendo a maioria delas a do tipo grande, usadas para as máscaras de Halloween. O número também inclui as abóboras pequenas, usadas para decoração, e as comestíveis, como a moranga japonesa, muito consumida no Brasil.

Na internet, li comentários de alguns dinamarqueses preocupados com a americanização da cultura local e a possibilidade do crescente interesse pelo Halloween ofuscar o Fastelavn, que é o nome para o Carnaval na forma dinamarquesa, festejado no domingo 49 dias antes da Páscoa.

Cheguei a compartilhar um pouco dessa preocupação, mas acabei me rendendo ao Halloween porque aqui ele envolve hábitos que considero saudáveis. O corte das abóboras para confecção das máscaras, por exemplo, é geralmente feito pelas crianças com a família ou com amigos. Imagino também que parte das calorias ingeridas com os doces que as crianças ganham é queimada na caminhada necessária para ganhá-los. Além disso, graças à tradição de pedir doces, pelo menos numa noite do ano os pais se livram da tarefa de ter que implorar aos filhos para que eles saiam da frente da televisão, do tablet ou do celular.

7 comentários Adicione o seu

  1. Brincar é tão gostoso que não poderia respeitar fronteiras mesmo. A festa corre o mundo. Eu até pensava não ser positivo assumirmos esta tradição americana como nossa, esquecendo do folclore brasileiro, quando me lembrei que uma coisa não inviabiliza a outra. Hoje, todas as culturas estão mais próximas. Não há nada de mal em cultivar este dia de brincar de bruxas, ver nossas crianças felizes e também nos tornarmos crianças pavorosas. Precisamos apenas fazer nosso Saci, nosso folclore enfim, chegar lá, incentivando a divulgação, criando uma outra festa, sei lá.

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    1. Concordo, Eliane, que uma coisa não precisa inviabilizar a outra. Acho até que podemos aproveitar a onda do Halloween para chamar a atenção para o nosso folclore, que poderia ser mais valorizado.

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  2. Cássio disse:

    Gostei do texto. Acho que temos que nos preocupar com outras invasões culturais, como o racismo, o sexismo, o especismo, o antissemitismo, a homofobia, a islamofobia e tantos outros ‘ismos’ e ‘bias’. As crianças se divertem e ninguém sai machucado; então, na minha opinião, não há problema. No Brasil, está crescendo essa tradição. Os mais ‘nacionalistas’ (entenda-se, antiamericanos, anti-imperialistas etc.) são contra porque a tradição vem dos EUA. Mas essa gente do contra adoraria ver nosso Carnaval, caipinha, feijoada etc, exportados para os EUA.

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    1. É verdade, Cássio; temos invasões culturais bem muitíssimo mais perigosas com que nos preocupar.

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  3. Márcia disse:

    Gostei muito do seu texto! Aqui no Brasil essa festa está chegando devagarinho. Mas, temos uma “briga” entre algumas pessoas, pois aqui no Brasil, é comemorado o dia do Saci. O que na minha opinião deveria ser muito mais valorizado pois se trata da nossa cultura brasileira.

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    1. Márcia, concordo que o nosso próprio folclore deveria ser mais valorizado, mas acho perda de tempo lutar demais contra “invasões culturais” como o Halloween. Há influências externas mais sérias e que deveriam receber mais nossa atenção.

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  4. Ágatha disse:

    Muito legal! Incrível 👍

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