Estamos a mais de um mês para o 25 de dezembro, mas já estou me sentindo como se hoje fosse 26 de dezembro. É que, na Dinamarca, o Natal chegou há mais de um mês. Estávamos na terceira semana de outubro quando quinquilharias natalinas começaram a aparecer em lojas e supermercados dinamarqueses. Uma amiga que mora aqui publicou em sua linha do tempo do Facebook a foto da vitrine de uma loja com objetos de natal e, assustada com a pressa dos comerciantes, escreveu: “Estou chocada”.
No início de novembro, a coisa desandou de vez. O verde, vermelho, dourado e prateado natalinos invadiram prateleiras, vitrines, brochuras e até mesmo algumas ruas na forma dos mais diversos e imagináveis enfeites, utensílios, roupas e bijuterias. Agora, não há mais para onde fugir. Quando preciso fazer compras, se olho para um lado, encontro o olhar malandro de um duende de natal. Se olho para o outro, é um Papai Noel bonachão que me sorri. Viro para a direita, uma rena dourada. Viro para a esquerda, um homenzinho da neve trajando gorro vermelho.
Na livraria, livros com receitas típicas dessa época do ano me avisam que é hora de ir para a cozinha testar meus dotes culinários. Na seção de alimentos dos supermercados, vejo que a indústria fez sua parte para que eu ganhe alguns quilos desnecessários. Há uma profusão imensa de tentações na forma de biscoitos, bolos e bombons açucarados. Tudo isso exposto sem o menor constrangimento ao som de obras-primas musicais em inglês e dinamarquês tocadas ininterruptamente.
Nem mesmo nas áreas residenciais há refúgio porque os dinamarqueses embarcam festivamente na onda verde-vermelha-dourada-prateada promovida pelo comércio. Guirlandas com centenas de pequenas lâmpadas começam a pipocar em janelas, varandas e jardins. Nas ruas, já até vi membros da torcida verde-vermelha devidamente enfeitados com gorros vermelhos ou diademas imitando chifres de renas.
Depois de tanto tempo vivendo na Dinamarca, perdi a capacidade de me surpreender com a pressa com que os comerciantes daqui tentam vender bugigangas da estação de festas e todo outubro tento adivinhar onde será a primeira vez no ano onde verei porcarias natalinas à venda.
Este ano foi num supermercado. Lá encontrei diversos kits do tipo “faça você mesmo” para confecção de enfeites de natal. Aí, logo de cara, minha determinação de não embarcar na onda consumista que cobre a Dinamarca no período natalino foi por água abaixo. Comprei um dos tais kits. Era bonitinho, algo legal para fazer com minha filha, bem baratinho e, já que eu estava lá mesmo, né?
Mas vou parar de reclamar. Afinal de contas, com a onda verde-vermelha-dourada-prateada estou me tornando um ser humano melhor ao aprender a compreender o próximo. Com ela, entendi o desespero dos brasileiros que não gostam de futebol nos períodos que antecedem as copas do mundo. A diferença é que até que gosto de Natal, mas talvez gostasse mais se durasse menos ou se acontecesse de quatro em quatro anos.
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Quer saber mais sobre as tradições natalinas da Dinamarca? Confira meus textos anteriores sobre o tema:
02.11.2011 – Na Dinamarca, o Natal começa no Dia-J com cerveja de graça
30.11.2011 – Armadilha natalina
05.12.2011 – Armadilha natalina II
04.12.2014 – O tal clima natalino