Tenho me sentido incapaz de escrever nas últimas semanas. Anos atrás, minhas tragédias pessoais serviram de combustível para minha vontade e capacidade de escrever, mas o atual drama político brasileiro, no lugar que chamo e sempre chamarei de casa, me choca, entristece e emudece. Tudo sobre o que quero escrever é insignificante e sem importância diante da dramática situação do meu país.
Golpe de estado é a única expressão que encontro para descrever um processo de impeachment levado a cabo por políticos que, como não deveria ser de se esperar, pensam apenas em seus próprios interesses e nem um pouco no que é justo e melhor para a maior parte das pessoas que deveriam representar.
O que mais me impressiona não é a ganância, desonestidade e cinismo dos que querem chegar ou se manter no poder ou dos que não abrem mão de seus privilégios. O que mais me choca e entristece é o pouco valor que a maioria dos brasileiros parece dar à democracia. Só isso explica que a sociedade assista passivamente a um bando de hipócritas desprezar e rir da vontade popular numa farsa liderada por um homem cuja dignidade se desfez com uma traição sórdida.
Acho que superestimei o valor que os brasileiros dão à democracia e por isso nunca imaginei que viveria um outro golpe de estado no Brasil. Tive a ilusão de que os brasileiros tivessem começado a incorporar como seus os princípios básicos de uma democracia e que se levantariam contra os que investissem contra ela. Doce ilusão, amarga realidade.
Sobre o assunto, precisa ser lido: Afastamento de Dilma é hipocrisia como jamais houve no Brasil, por Jânio de Freitas