A raposa e o dramático fim da Branca de Neve e da Bárbara

Aconteceu dois dias depois do Natal. De manhã sentimos a falta do cocoricó que muitas vezes nos desperta e, pela janela, vimos no fundo do quintal uma mancha esbranquiçada. Chegando mais perto descobrimos assombrados que se tratava de um amontoado de penas brancas – o  que sobrou, pelo menos para nós, da galinha que minha filha batizou de Branca de Neve.  Mais adiante havia uma quantidade menor de penas marrons que, concluímos, tinham pertencido à galinha Bárbara.

No galinheiro, a única sobrevivente. A nossa terceira galinha, a Daisy, estava encolhida e trêmula num canto escuro do galinheiro, que é parcialmente cercado por um aramado colocado para proteger nossa pequena criação das raposas. O cercado funcionou como deveria, mas, como geralmente acontece nesses casos, a falha foi humana. Alguém esqueceu de travar a tramela da portinhola da casinha de madeira onde dormiam as galinhas.

Esta não foi a primeira vez que raposas entram no nosso quintal. Anos atrás, antes de começarmos a criar galinhas, me admirei com a tranquilidade de uma raposa tomando banho de sol no gramado. Meses atrás, por volta das seis horas da manhã, alarmada por um cacarejar desesperado, surpreendi outra fuçando o cercado do galinheiro à procura de um jeito para atacar as galinhas. Um berro meu a fez fugir com rapidez impressionante, desaparecendo pelo terreno do vizinho depois de escalar a cerca viva.

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Prosperidade

Se levarmos em consideração a quantidade de galinhas da vizinhança mortas por raposas, até que as nossas duraram muito. É frequente termos notícias de que o Mikkel Raposa, como as raposas costumam ser chamadas na Dinamarca, se serviu de uma, duas ou mais galinhas de quintais do bairro. Também não faltam relatos de que os primos dos cães resolveram variar a dieta devorando bichos de estimação como coelhos e porquinhos da índia.

O apetite das raposas é um problema para os criadores de animais domésticos pequenos, mas também é um sinal de que, na Dinamarca, a saúde desses animais selvagens vai bem, obrigado. De acordo com a Associação de Proteção da Natureza da Dinamarca, o animal não está sob ameaça, embora ainda esteja se recuperando de uma doença que, a partir de 2003, reduziu pela metade a população de raposas do país.

Não há cálculos precisos sobre quantas raposas vivem na Dinamarca mas, de acordo com o jornal Berlingske, devem ser em torno de 100 mil. Muitas delas vivem em parques nas cidades ou ao longo de rodovias e estradas de ferro. As que atacam os animais domésticos do meu bairro provavelmente vivem na área em torno do Lago Utterslev, uma área de proteção ambiental no norte de Copenhague e que fica perto de onde moro.

Trauma superado

É bom saber que as raposas prosperam, mas, francamente, elas precisavam escolher duas das nossas galinhas para a ceia de Natal? A propósito, há alguns fatos curiosos no desaparecimento da Branca de Neve e da Bárbara. Em primeiro lugar, não entendo bem porque não ouvimos o cacarejar desesperado delas.  Minha tese é de que naquela noite ventava muito, o que provavelmente abafou o barulho que elas devem ter feito na luta pela sobrevivência.

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Daisy

Além disso, fiquei surpresa ao descobrir que Daisy havia sido a sobrevivente. Já era de se esperar que a Branca de Neve fosse presa fácil pois ela era a mais velha e já havíamos percebido que não se movimentava com a agilidade dos tempos de juventude. Mas a Bárbara! Era ela a mais esperta e rápida. Era uma brigona que, logo que chegou, entrou em atrito com a pioneira Branca de Neve. Com todo respeito e sem querer ofender os sentimentos da Daisy, é intrigante que ela tenha sido a única que não pereceu. Logo ela que sempre foi a mais sonsa e desengonçada.

Porém, a Daisy, com uma atitude meio blasé, nos mostrou que a vida segue. Depois do desaparecimento de suas companheiras, ela ficou uns dois dias meio cabreira e quieta. Em seguida, passou a se comportar como se nada de mais tivesse acontecido e sempre tivesse vivido só. De dois em dois dias, bota um ovo, o que é a prova mais cabal de que o trauma foi superado.

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Surpresas em um galinheiro

2 comentários Adicione o seu

  1. marilza disse:

    Olá Margareth, td bem? Lamento o triste fim de Branca de Neve e Bárbara, imagino o pânico ao serem devoradas, cruz credo! òtimo ensejo para falar de minha vizinha. Ela tem um galinheiro com 8 galinhas. Diz que tem 4 chocando, portanto só dispõe de 4 ovos por dia para consumo próprio. Nós compramos os ovos em sistema de rodízio que ela implantou, rs, senão, não há ovos suficientes para toda a vizinhança, rsrs. As galinhas comem milho, cascas de legumes, restos de alface. As gemas são amarelinhas e eu adoro! Mas, diga-me: existem muitas raposas na Dinamarca? No campo ou na cidade? É comum as pessoas daí criarem galinhas para consumo próprio? Isso é muito legal! Um abraço

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    1. Oi Marilza, aqui tubo bem, obrigada. E aí?
      Não encontrei dados precisos sobre quantas raposas existem na Dinamarca. Falam em 100 mil, como escrevi no texto, e hoje mesmo uma vizinha me contou que uma esteve no quintal dela de manhã. A raposa rondou o galinheiro da vizinha, onde só havia uma galinha, e saiu andando traquilamento quando percebeu que estava sendo observada.
      A Daisy está passando uma temporada no galinheiro da vizinha, que também havia perdido duas galinhas para as raposas. As suas sobreviventes estão fazendo companhia uma à outra até que compremos frangas novas. A compra terá de esperar algumas semanas por causa da gripe aviária que aflige a Europa atualmente.
      A criação de galinhas para consumo próprio é bastante comum na Dinamarca. Só na minha rua, que tem umas 60 casas, sei de cinco que criam galinhas, a maioria por causa dos ovos.
      Abraços,
      Margareth

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