”Melhor se apaixonar por um americano do que por um brasileiro”

Nyhavn at spring time
Copenhague. Image via Wikipedia

Na semana passada os partidos do governo dinamarquês e seu maior aliado, o partido nacionalista Dansk Folkeparti (DF, o Partido do Povo Dinamarquês) fecharam um acordo histórico com o o apoio do partido de centro, o Radikale, para mudanças nas regras de aposentadoria. O acordo foi festejado pela imprensa como o fim de dez anos da política de bloco, uma prática iniciada pelo primeiro ministro anterior, Anders Fogh Rasmussen, do Venstre, que passou a se valer da maioria que seu partido e seus aliados gozam no parlamento para impor seus projetos ignorando os partidos da oposição. A prática quebrou a tradição dinamarquesa da democracia cooperativa, através da qual sempre se buscou a participação do maior número possível dos partidos representados no legislativo dinamarquês nas discussões e decisões políticas.

Se por um lado fiquei contente com a mudança, um dos preços do acordo me assustou. Para garantir seu apoio à mudança nas regras da aposentadoria, o partido nacionalista, o Dansk Folkeparti (DF, o Partido do Povo Dinamarquês), exigiu e conseguiu que o acordo incluísse o restabelecimento do controle alfandegário e o reforço da fiscalização nas fronteiras com a Alemanha e a Suécia, o que gerou protestos de outros países europeus preocupados com as consequências da decisão sobre o princípio de livre circulação na União Europeia (UE).

A polêmica causada pela decisão sobre o restabelecimento do controle das fronteiras mal acabou e o ministro da Integração dinamarquês, Søren Pind, já começou uma nova discussão envolvendo os direitos dos estrangeiros que vivem na Dinamarca. Com o aplauso do Dansk Folkeparti, ele pretende dar tratamento diferenciado a estrangeiros que queiram vir morar no país para se juntar a seus parentes dinamarqueses. Cidadãos de países como Estados Unidos, Japão, Canadá, Nova Zelândia e Austrália, seriam dispensados da chamada prova do imigrante, que testa conhecimentos sobre a língua e a cultura dinamarquesas. Segundo o jornal Politiken, o ministro pretende beneficiar cidadãos de países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de países que tenham alto Índice de Desenvolvimento Humano e de países cujos cidadãos podem viajar para a Europa sem necessidade de visto.

A proposta provocou críticas dos partidos de centro-esquerda e de organizações de defesa dos interesses dos imigrantes. “O governo e o DF acham que deve ser mais fácil para uma pessoa se mudar para a Dinamarca se ela tem boa educação e muito dinheiro. Mas estamos falando de cidadãos dinamarqueses que se apaixonam. Agora pode ser melhor se apaixonar por um americano do que por um brasileiro”, disse o social-democrata Henrik Dam Kristensen ao Politikien.

A nova investida contra os estrangeiros não terminou com a proposta do ministro. Como parte de um pacote com o qual se tenta garantir a saúde das finanças da Dinamarca em 2020, o governo, o DF e o partido dos Democratas Cristãos concordaram em restringir o acesso de imigrantes a serviços públicos de saúde e à aposentadoria integral paga pelo estado, chamada de aposentadoria popular (folkepension). Se antes um imigrante tinha de morar 40 anos na Dinamarca para ter direito ao valor integral da aposentadoria, a partir de agora esse prazo será de 47 anos. As condições para o direito à ajuda de custo para compra de medicamentos também serão mais rígidas para imigrantes do que são para dinamarqueses.

Tudo isso me faz concluir que, por mais que tentem me convencer do contrário, a política dinamarquesa mais parece um disco de vinil arranhado: não sai do lugar e repete uma enervante ladainha xenófoba.

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2 comentários Adicione o seu

  1. Oi Leo,
    Concordo com você que xenofobia é, no fundo, expressão de medo, e também de ignorância. Nesse caso, na verdade, o social-democrata tentou mostrar de forma irônica o absurdo da proposta do governo liberal conservador que perdeu as últimas eleições parlamentares em agosto e deu lugar a um governo de centro esquerda. O atual governo promete legislação mais branda em relação aos estrangeiros e estamos esperando que em breve sejam anunciadas mudanças nessa área.

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  2. leonice disse:

    Um social- democrata achar melhor se apaixonar por um americano do que por um brasileiro deveria saber que somos americanos ,pois o Brasil está na América do sul, portanto também somos americanos. Deveria saber que os brasileiros estão salvando o turismo norte americano e consequentemente ajudando a economia deles. Que enquanto a Europa “reza” pra cair no abismo da recessão financeira, o Brasil está numa posição bem confortável.
    Do que ele tem medo afinal? Xenofobia, no fundo é puro medo. Um grande abraço.

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