Dinamarquês também faz xixi na rua

A festa Distortion toma conta das ruas de Copenhague no final da primavera.
A festa Distortion toma conta das ruas de Copenhague no final da primavera. Foto do site oficial da Distortion.

Logo que me mudei para a Dinamarca, me surpreendi com um mau hábito de muitos homens dinamarqueses: fazer xixi em áreas e vias públicas. Repetidas vezes fui incomodada pelo mau cheiro de ruelas, becos e passarelas subterrâneas, algo que eu conhecia do Brasil, mas que eu não esperava ver num dos países mais desenvolvidos do mundo.

Homem dinamarquês para em qualquer lugar, chega num canto, abre a braguilha e, aaaaaah, se alivia no primeiro gramado, moita, poste ou lixeira que encontra no caminho. Alguns são mais discretos, mas muitos nem se intimidam com a aproximação de outras pessoas, inclusive mulheres, para se desfazerem do acúmulo indesejado de líquido.

Da janela

Já falei a alguns brasileiros sobre esse costume dos homens dinamarqueses e eles me olharam com ceticismo, como se achassem que o povo escandinavo fosse incapaz de uma feiura e que eu estivesse, no mínimo, exagerando. Mas aí contei sobre a janela da cozinha do primeiro apartamento onde morei em Copenhague, quase em frente à pequena estacão de trem do bairro de Emdrup. A janela dava para uma rua e do outro lado da via havia uma estreita faixa de gramado que terminava na cerca que protegia a estrada de ferro. Fazíamos nossas refeições ao lado dessa janela mas, muitas vezes, para conseguirmos terminá-la, tínhamos de evitar olhar para fora porque dali pudíamos assistir cenas das mais cômicas e algumas bastante repugnantes de passageiros desesperados recém-saídos do trem que se aliviavam na grama. A grande maioria dos usuários da grama transformada em mictório era de homens de todas as idades, mas presenciamos também mulheres que se agachavam rapidamente e se livravam do que corria o risco de escorrer pelas pernas.

Alguns dinamarqueses até tentam exportar o péssimo hábito. Recentemente, na China, seis turistas dinamarqueses causaram indignação ao descerem do ônibus em que estavam e em u(ri)níssomo e usarem a lateral de uma rodovia do sul da China como mictório ao ar livre, como conta o jornal Politiken. Uma fotografia do ato esplêndido circulou nas redes sociais chineses onde vários usuários pediram punição exemplar para os mijões.

Cultura do deixa pra lá

Urina é um grande problema das grandes festas de rua que acontecem em Copenhague. Aliás, um bom conselho é evitar andar pelo centro da cidade no dia seguinte a uma dessas festas devido ao mau cheiro. Na maior dessas festas, a Distortion, a prefeitura de Copenhague começou no ano passado e vai repetir na edição deste ano, daqui a duas semanas (http://cphdistortion.dk/) o uso de um urinol simples, barato e engenhoso para tentar diminuir o problema. É uma peça feita de dois cones plásticos colocada diretamente sobre bocas de lobo e ralos na rua que os homens podem usar para urinar, como mostra o vídeo abaixo. Talvez seja algo que também possa ser usado em grandes festas de rua no Brasil.

Mas, afinal, pra que contar toda essa história urinária? Sempre ouço e tenho também lido inúmeros comentários do tipo ”ah, se fosse num país do Primeiro Mundo isso não aconteceria”, ou ”isso só acontece porque é numa república das bananas onde o povo não tem educação” como reação a atitudes ou hábitos considerados pouco civilizados de brasileiros. Mas falta de civilidade e educação e desrespeito com o bem público acontecem, em maior ou menor grau, em qualquer lugar do mundo.

Portanto, comentários como os que citei acima, são perigosos porque a cultura do “deixa pra lá” ou “isso não tem jeito mesmo”. Podem levar à passividade e à aceitação de práticas como urinar na rua, jogar lixo num terreno baldio, desviar esgoto para um rio e avançar o sinal vermelho que, sabemos, deveriam ser inaceitáveis. Mesmo que não sejamos da turma do xixi na rua, é muito mais fácil apenas reclamar que quem é dessa turma é um tupiniquim selvagem sem cura nem salvação do que tentar fazer algo concreto a respeito.

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7 comentários Adicione o seu

  1. mariagbco disse:

    Republicou isso em experiênciasdeviagense comentado:
    Tá vendo que não é só brasileiro que faz xixi na rua?? 🙂

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  2. mariagbco disse:

    Olá Maragareth! Adorei esse post e seu blog também…Nunca imaginei que esse hábito de fazer xixi nas ruas pudesse acontecer num país como a Dinamarca (isso pode acontecer em qualquer país, mas fora do Brasil, achava que era incomum..rsrsrs). Recentemente publiquei uma postagem sobre Copenhagen e vou reblogar seu post que achei bastante interessante! Abraços!

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    1. Fico feliz que tenha gostado, Maria. Para você ver: exemplos de falta de educação acontecem em todo lugar. Sinta-se à vontade para reblogar meu post e volte sempre. Abraços!

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  3. Vera Rita da Costa disse:

    Depois da leitura, estou mais conformada com o Guarujá no Carnaval e Fim de ano. Aqui, não é sempre. Ufa! Mas, como neta de dinamarqueses (que não conhece lá) alimentava ainda essa “confusão mental” de que desenvolvimento econômico é estritamente proporcional a desenvolvimento cultural. Nem sempre e não para tudo, não é? Abraços!!!!

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    1. Não, mesmo, Rita. A Dinamarca dos seu avós é sem dúvida muito desenvolvida econômica, social e culturalmente, e acho que chegou a esse estágio porque boa parte da sociedade exerce o que eu chamo de cidadania vigilante. Boa parte dos cidadãos assume ativamente responsabilidade pelo bem coletivo,, o que vai muito além de votar e pagar impostos. Muitos estão conscientes de que custa não só dinheiro, mas também muito trabalho, manter os padrões de desenvolvimento que eles alcancaram. Isso inclui ficar de olho nos mijões de via pública, que existem em todo lugar.

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  4. Agora entendi o motivo do “há algo de podre no reino da Dinamarca”. É xixi.

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    1. Eu não tinha pensado nisso. Ainda bem que é só xixi. Rsrs

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